segunda-feira, novembro 27, 2006

sexta-feira, novembro 24, 2006

A Pausa de Alfredo Bosi


A Pausa

A pausa é responsável por marcar as células métricas e sintáticas, ordenando, desse modo o tempo da leitura. A pausa divide e, no dividir, equilibra. A pausa é dialética. Pode ser uma ponte para um sim, ou para um não, ou para um mas, ou para uma suspensão agônica de toda a operação comunicativa.

Na medida em que exerce uma função abertamente semântica, a pausa pertence antes à ordem da entoação e do andamento que à ordem, mais regular e cíclica, do metro.

A pausa que separa a frase que foi da frase que virá é um silêncio, cujo sentido vivo já pulsa na frase que foi. Vamos ler cada uma das nove pausas do poema “Maça” de Manuel Bandeira:

Por um lado te vejo como um seio murcho/
Pelo outro como um ventre de cujo umbigo pende ainda o cordão placentário/

És vermelha como o amor divino/

Dentro de ti em pequenas pevides/
Palpita a vida prodigiosa/
Infinitamente/

E quedas tão simples/
Ao lado de um talher/
Num quarto pobre de hotel//

quinta-feira, novembro 23, 2006

Espessura Temporal na pintura e o relacionamento desta com a música

No campo das artes, trabalho essencialmente com a pintura, a fotografia e o vídeo. Neste documento é abordado o relacionamento e as implicações das imagens produzidas pelos meios artísticos mencionados acima no espaço e no tempo.

Durante o processo de uma pintura, surgem diversas imagens que vão sobrepondo-se às anteriores, produzindo uma seqüência de apagamentos das quais resultam outras imagens. Ao observar o processo, questões relativas aos conceitos estabelecidos e cristalizados de espacialidade, temporalidade e materialidade se impõem:

• É possível resistir ao tempo, tornar um instante durável ou fazê-lo existir por si só?
• Como escapar à efemeridade das imagens?
• Como converter uma seqüência temporal de gestos, em imagens reversíveis do tempo sem que isso se torne um mero efeito tecnológico?
• Como criar uma espessura temporal a partir de movimentos, deslocamentos no espaço?
• Como criar uma nova dimensão temporal contando apenas com o encontro sensível entre qualidades intensivas mutáveis e um observador?
• Como resgatar o "tempo perdido" por meio de imagens, de sensações audiovisuais?

Fala-se aqui de um tempo proustiano. "Para sair das percepções vividas não basta evidentemente memória que convoque somente antigas percepções, nem uma memória involuntária, que acrescente a reminiscência, como fator conservante do presente. A memória intervém pouco na arte, mesmo e, sobretudo em Proust" - dizia o filósofo.


Para o artista é premente tentar pensar, com os recursos e instrumentos propriamente artísticos, a situação contemporânea e o questionamento radical que ela comporta: a aceleração exponencial derivada da avalanche tecnológica acelerada e seu impacto sobre a "humanidade". Para tanto, este ensaio privilegiará uma espécie de aguçamento da percepção do tempo, do espaço e da matéria.

À medida que a tecnologia progride e se dissemina, mudanças ocorrem no campo da arte. O progresso tecnológico faz emergir novos modelos de criação e de produção, refletindo a cultura e paradigmas de cada época. Por outro lado, também as criações artísticas, científicas e filosóficas fazem surgir novas possibilidades tecnológicas.

Portanto os atuais processos tecnológicos digitais de captação e de pós-produção de imagens nos impelem a avançar sobre a linguagem audiovisual com a intenção de estudar os novos parâmetros estéticos e pesquisar problemas relativos à virtualização do espaço, do tempo e do corpo.

Na produção audiovisual não é incomum unir elementos advindos dos diferentes segmentos, da ciência, da arte e da filosofia. No entanto, a intersecção entre eles permite o surgimento de novas possibilidades de atuação criativa e de atualização do trabalho artístico.

A partir de duas óticas principais sobre o tempo (Bergson e Bachelard), serão analisadas com objetivo de refletir, discutir e desenvolver pontos de vista dentro desta linha de pesquisa.

O cerne da filosofia de Bergson é a intuição da duração (durée) – a representação de uma duração heterogênea e qualitativa. A duração é a consciência, onde se unem a experiência e a intuição. Em outras palavras, o tempo é a sucessão dos estados de consciência. É um processo em contínuo enriquecimento e não divisível. Onde há tempo pode haver semelhança, mas não identidade. É o que é chamado de tempo vivido.

Na dialética da duração, Bachelard não aceita a continuidade de Bergson. Se o tempo é criativo, não por virtude da permanência do passado, mas através de uma decisão no sentido etimológico do termo: o término de cada instante significa, ao mesmo tempo um novo começo. A partir de uma intenção que recortamos o que compõe nosso passado. A memória não se baseia na ordem temporal, mas constrói o tempo ao redor de um acontecimento de modo a fixá-lo no passado. Portanto o tempo é conseqüência do querer. Tempo pensado gera tempo vivido.

Como transcrever a relação destes tempos de Bergson e Bachelart com as artes pictóricas e musicais? Da Vinci afirma que, “a arte da pintura supera a música e se coloca numa ordem superior a esta, porque não desaparece como a música. A pintura permanece o tempo todo, já a música dependendo do sentido da audição desaparece após o término do som de cada nota musical”. Ao ouvirmos diversos textos musicais, alguns destes podemos reter uma melodia completa, uma experiência vivida, em outros fica armazenado o último instante musical. É bastante questionável se há uma superioridade da música em relação à pintura. É sabido que a visão é o sentido mais predominante do ser humano, mas isto não dá direito a definirmos uma hierarquia decrescente aos sentidos humanos.

Se fizermos uma analogia das camadas de pintura com a sobreposição de notas musicas, surge uma polifonia de imagens equivalente a um texto musical. A cada escolha diante do processo criativo é definido um tempo. Refiro-me as escolhas durante o processo de pintura onde é o tempo é sentido na passagem das camadas pictóricas. Surgem diversas imagens correspondentes a uma pintura especifica. A impressão vivida resulta na variação de escolhas no processo criativo permitindo aumentar ou diminuir o tempo sentido. O processo criativo musical é semelhante com o da pintura. Na audição de um texto musical nos fica uma impressão de um tempo retido, que pode variar de um instantâneo até um infinito. Na pintura e na música um pequeno número de variações pictóricas ou musicais respectivamente pode fazer a sensação de tempo diminuir, aumentar ou esgarçar, chegando muito próximo a uma eternidade.

O processo criativo na pintura é composto de diversas decisões durante o pintar. Se conjeturarmos uma interrupção no meio do processo, será possível saber o final deste? Poderemos imaginar o percurso da tela ao final? Para Pondy, “o futuro é uma presentidade e possui uma verticalidade”. Portanto, podemos costurar o futuro através do presente. Quando Levistrauss nos mostra as camadas adjacentes de uma montanha, o quanto de semelhança há com as camadas da pintura? Neste caso, parece existir um tempo costurado, podendo prever as futuras camadas que decorrerão nesta montanha? É o devir de Heráclito ? As montanhas de Levistrauss nos mostram a forte inter-relação entre a natureza e a arte.

Cada arte tem sua especificidade na capacidade de reter e representar o tempo. Ontologicamente a literatura tem demonstrado nas suas obras literárias a contenção de múltiplos tempos (tempo: presente, passado, futuro); a música é responsável por um tempo único e linear; a pintura domina um tempo espacial, a fotografia fixa um tempo instantâneo e o vídeo um tempo virtual manipulável com uma duração ajustável.

Ao pensarmos no tempo sob a ótica de Sto. Agostinho, “o tempo não é apenas uma sucessão de instantes separados. É um continuo e indivisível.”, chegamos à conclusão que o tempo nada mais é que uma extensão dele próprio. Passamos a definir vários tipos de tempo: cronológico, vivido, pensado, psicológico e sentido. Ao ouvirmos o conjunto das três Gymnopédies de Satie e comparando a primeira das Gymnopédies com a segunda, é possível observar na segunda uma extensão da primeira, um alargamento dos intervalos de silêncio, um alargamento do tempo entre as notas musicais. Ao experimentarmos a extensão ou distensão nas Gymnopédies, e como se ficássemos num eterno presente. É possível também provocar a mesma sensação de eternidade na pintura ao contemplar as telas negras de Mark Rothko. Paira um olhar, um silêncio eterno. O fator predominante é que este tempo denominado psicológico pertence à consciência de cada um de nós.

Para o ensaísta e escritor Anatol Rosenfeld, um tempo é produzido entre o estimulo a uma solicitação e a resposta gerada. Entre o estimulo e a reação surge o território da dúvida, um hiato, um intervalo temporal, inexistente para os animais, pois estes vivem num eterno presente, não possuindo esta ambigüidade. Os animais agem por reflexo enquanto o ser humano por reflexão. A resposta do animal é instantânea ao estimulo, o homem necessita de um espaço temporal para reagir. Sinto que na criação de uma pintura, esta aprisiona muito destes tempos devido aos períodos de dúvida, de questionamento. No caso desta arte, a pintura, o processo opera no acontecer do quadro.

Assim o quadro representa tempo. Como esse tempo é entregue ao espectador? O que é o tempo de um quadro para seu espectador? Esse tempo do espectador não é o tempo vivido do pintor, isto é o tempo de criação da obra. Jacques Aumont, escritor francês define dois tempos para o espectador: o tempo ocular e o tempo pragmático. O tempo ocular é resultado do processo ótico do olho sobre a superfície da imagem. É a varredura automática da imagem. O tempo pragmático é o tempo necessário e eficaz para vermos a essência da imagem num contexto próprio pertencente a cada um dos espectadores. É difícil definir um tempo para a duração do tempo pragmático.

Ao abordar o tempo e a memória Kundera afirma que, “O Homem é separado do seu passado por duas forças que entram em ação imediatamente e cooperam entre si: a força do esquecimento que apaga e a força da memória que transforma .” Um pensamento muito similar e sinérgico ao de Bachelart, em que o importante para o homem não são os fatos vividos mas o simulacro destes. Este simulacro é composto de instantes impressos na consciência de cada homem. O uso do vídeo como máquina de visão, permite reter este conjunto de instantes e vê-los de forma diferente e manipulável. O que fica em nós depois de vermos uma foto ou um vídeo sobre um determinado fato ocorrido? Será que permanece a realidade do fato ou a imagem vista através da fotografia ou do vídeo? O vivido passa a depender de novos fatores, e portanto há uma probabilidade de mudarmos o nosso passado.

As artes se articulam continuamente ressoando umas nas outras. Não existe uma arte superior ou inferior à outra. Cada arte expressa de forma impar o seu melhor através de sua especificidade. A pintura é composta de luz, cor e matéria, a música de notas musicais e melodias, a literatura de palavras, frases, parágrafos. A construção da pintura pode ser vista de forma idêntica à criação de um texto musical, onde cada camada pictórica nada mais é que uma adição de notas musicais, suscitando um novo espaço. Ora, durante todo o tempo, o artista parte de uma impossibilidade, ele pretende consagrar um instante expressivo numa determinada matéria, ignorando os limites físicos, e inaugurando um novo tempo através deste espaço.

Em o “Olho Interminável”, de Aumont, ele salienta três questões da pintura: o impalpável, o irrepresentável e o fugidio. Estes pontos também passam pelo domínio da música. Na pintura, o impalpável é a cor, a luz que não podem ser tocados; na música por mais que o instrumentista a toque, o observador só pode ouvi-la. O irrepresentável é um desafio para o pintor e para o músico. Beethoven, grande alquimista da arte, se consagrou ao representar a natureza através da Sinfonia no. 6 em Fá maior op.68 < Pastoral> de caráter bucólico. Cézanne e Monet representam a natureza de forma maravilhosa em suas pinturas impressionistas. Por último, o fugidio é composto da efemeridade das imagens na pintura e sons transitórios na música. Ao término de cada fase da pintura ou de um texto musical, um apagamento e o surgimento de uma nova lembrança.

As cartas de troca entre os artistas Wassily Kandisky e Arnold Schöenberg derivaram numa terceira arte, uma obra literária, discutindo a relação entre as artes pintura e música. Numa das cartas de Kandisky para Schöenberg se fala da falta de importância da forma na pintura, valorizando o ritmo e a composição desta. Este pensamento sintoniza com o do músico que objetiva muito mais uma linguagem (gramática) e menos um discurso (comunicação). Usar uma estrutura construtivista é apenas uma gramática não possuindo o essencial da arte, o enunciado. Schöenberg responde a esta carta afirmando que há necessidade de eliminar a vontade e o desejo do artista, em favor da experimentação plástica. Isto salienta a importância da articulação e ressonância entre as diversas artes. Outro exemplo de articulação no campo das artes pode ser visto entre Goya e Balzac. Se virmos as pinturas e os texto de Goya em “Os Caprichos”, existe uma sintonia enorme com a obra de Balzac, “A Comédia Humana”. Ambas, criticas sociais do homem, da cidade e da sociedade. Meios diferentes, ressoando um mesmo enunciado.

O entendimento de tempo se dá entre esta simbiose que existe entre o tempo e o espaço. Perceptivamente é na geração de um espaço, de um intervalo que se cria um tempo, um tempo presente e real. Em frações de décimos, segundos este tempo se torna totalmente virtual e irreal. Ao percorrer o tempo passado através de uma máquina de vídeo, o que realmente estaremos vendo? Um tempo passado, ou um tempo presente do passado de uma determinada imagem. Existe um tempo passado no presente? Existe um tempo futuro no presente? Ou o que existe é apenas um tempo presente, o tempo que vivemos.

A tecnologia atual nos permite aumentar nossa percepção visual, auditiva e sensitiva, ampliando nosso horizonte em relação ao tempo. A possibilidade de armazenar a captação continua dos momentos vividos não nos deixa esquecer esquecendo. Surgem inúmeras possibilidades das formas variantes na manipulação do tempo: rápida, inversa, aglutinada, expandida, congelada e comprimida. Que tempos são estes? Esta mudança paradigmática acarreta um repensar das filosofias relacionadas com tempo de Bergson, Sto.Agostinho e Bachelart. Esquecer o fato e lembrar da imagem vista, sintoniza com Bachelart, o vivido é o simulacro, mas se a imagem lembrada for exatamente a vivida, estaremos próximos de Bergson?.

Em cada trabalho procuro colocar uma parte do meu conhecido junto com uma área de incerteza, de investigação, de experimentalismo. Quando termino de executar uma pintura, uma fotografia ou um vídeo, penso que na próxima experimentação darei um passo a mais. O ato artístico é um pequeno instante quase imperceptível de consciência, resultado das dúvidas e das inquietudes. A opção sempre se faz em direção da dúvida.

Veja os videos que expressam algumas destas inquietutes.




domingo, novembro 19, 2006

Encontro Cosmos




As artes se articulam continuamente. Não existe uma arte superior ou inferior à outra. Cada arte expressa de forma impar o seu melhor através de sua especificidade. A pintura pode ser sentida como num texto musical onde cada camada pictórica nada mais é que uma adição de notas musicais, um novo espaço. Ora, durante todo o tempo, o artista parte de uma impossibilidade, ele pretende consagrar um instante expressivo numa matéria, ignorando os limites físicos, e inaugurando um novo tempo com este espaço.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Trechos da Obra A Cortina de Kundera











Durante os dez últimos anos de sua vida, Beethoven não tem mais nada a esperar de Viena, de sua aristocracia, de seus músicos, que o veneram, mas não o ouvem mais, ele também não os ouve, mas não porque esteja surdo; está no apogeu de sua arte; suas sonatas e quartetos não se parecem com nada, pela complexidade da construção estão longe do classicismo sem estar, no entanto, próximos da espontaneidade fácil dos jovens românticos; na evolução da música, ele tomou uma direção que não foi seguida; sem discípulos, sem sucessores, o obra de sua liberdade vesperal é um milagre, uma ilha.

O Homem é separado do seu passado (mesmo do passado de alguns segundos atrás) por duas forças que entram em ação imediatamente e cooperam entre si: a força do esquecimento (que apaga) e a força da memória (que transforma). ...que nossas memórias não tendo guardado da leitura senão algumas migalhas, reconstruindo dois livros inteiramente diferentes.......

A glória dos artistas é a mais monstruosa de todas pois implica a idéia de imortalidade. É uma armadilha diabólica, porque a pretensão megalômana de sobreviver a própria morte está inseparavelmente ligada à probidade do artista.

ele não escreveu para falar da própria vida, mas para esclarecer aos olhos do leitores a vida de cada um deles.....

quarta-feira, novembro 08, 2006

Imagens pictóricas





























Algumas fotos do atelier.

Obra ou Rascunho

Meu Livro de Arte

Em Crítica Genética da professora Cecilia Almeida Salles, encontramos no texto uma análise interessante entre a relaçcão de uma obra e o rascunho desta. "No conto de Borges o Jardim dos Caminhos que se bifurcam, o personagem Ts'ui Pen diz certa vez: ´Retiro-me para escrever um livro´. Em outro momento, ele avisa: ´Retiro-me para construir um labirinto´. Todos procuram por duas obras, mas ao longo da busca, perceberam estar equivocados quando, diante do livro e seus ´rascunhos´ são um único objeto. Caminhos e descaminhos, que os ´rascunhos´ deixam transparecer, convivem de forma simutânea e harmônica conduzindo o escritor em direção à sua obra. Assim, um personagem pode morrer, ou matar, ou viajar, ou desaparecer, ou...no jardim dos caminhos que convergem em direção à obra publicada.
Para Citarmos um exemplo desta transapência do manuscrito, Ignacio de Loyola de Brandão viveu, ao longo da escritura de Não Verás País Nenhum, uma luta entre pólos antagônicos: sua visão, de certo modo, esperançoso querendo a preservação do homem em seu mundo futuro ficcional e uma perspectiva apocalíptica que a realidade ou o mundo ´lá fora´lhe forçava a adotar. Isto se refletiu em anotações sobre esse antagonismo que minava o escritor e se refletiu, também, em sua busca por meios literários que chegassem à sintese apaziguadora desses dois opostos. A opção se faz em direção à dúvida: ´o vento pressagiando a chuva´ e o ´broto surgindo do chão gretado´ são depois de muito pensar, encaixados, sob uma forma pouco definida, deixando a dúvida e levando o leitor a encontrar a continuidade por ele desejada. "

sexta-feira, novembro 03, 2006

Poesia Dá-me tua Mão - Clarice Lispector




Dá-me a tua mão

Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta.

De como entrei naquilo que existe entre o

número um e o número dois,

de como via a linha de mistério e fogo,

e que é linha sub-reptícia.

Entre duas notas de música existe uma nota,

entre dois fatos existe um fato,

entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço,

existe um sentir que é entre o sentir-nos

interstícios da matéria primordial está a linha de mistério

e fogo que é a respiração do mundo,

e a respiração contínua do mundo

é aquilo que ouvimos

e chamamos de silêncio.