quarta-feira, agosto 30, 2006

Materias de Pintura


Nos últimos anos meu trabalho está ligado diretamente à pintura com pincel e tinta, à tecnologia e a manipulação da imagem. Além da inserção de novos materiais reais fisicamente, há uma construção de uma paisagem eletrônica que é definida como arte também. Com uso da tecnologia consegue-se transformar a imagem através de inúmeros mecanismos de transformações. É importante que a manipulação digital das imagens implique numa memória seletiva que pode e deve conservar resquícios da imagem original. O uso de propriedades da física ótica será necessário nas alterações perceptivas da captura da imagem. O captar do processo de constituição e dissolução das imagens será parte intrínseca no resultado do trabalho proposto.
Minha pintura sempre foi decorrente de planos de cor e de matérias diferentes resultando num trabalho básico de construção. Os materiais são diversos: tinta, cola, papéis diversos, chapas de alumínio, de cobre, latão, de acrílico, barbantes e fios de metal. No caso das chapas de acrílico, latão, cobre e alumínio, o uso do reflexo permite que o trabalho tenha resultados diferentes conforme o tempo, a hora do dia, do posicionamento do espectador e do posicionamento do próprio trabalho. Em alguns trabalhos o uso de chapas de metal permitirá que o espectador veja sua interferência direta na pintura e com isto há uma troca entre este e a pintura, ambos interferem um no outro de forma diferente. O espectador e o ambiente fazem parte intrínseca do trabalho do artista. O trabalho passa a ser um trabalho múltiplo, contudo singular, para cada espectador de forma interativa. A sombra gerada por algumas interposições (acrílico amarrado na tela dos trabalhos) é imprescindível para a questão analisada. Os materiais vão se mesclar, gerando um conjunto de processos ilusórios. Na matéria do metal está nossa essência e nosso mundo. A harmonia entre a pintura, leve e etérea, com o peso do metal é um encontro maravilhoso onde surge uma alquimia pictórica no metal fazendo-o totalmente leve sem que desapareça o seu peso e sua responsabilidade.

À medida que a tecnologia avança e se dissemina, o conceito de arte sofre mudanças. A tecnologia faz emergir novos modelos de criação e de produção, reflete a cultura e modelos de uma época, faz surgirem novos modelos, amplia ou até elimina a visão anterior, gerando um novo paradigma. “A arte é um retrato da filosofia de cada época”.

Os processos digitais de captação e de pós-produção de criação de imagens analisam uma nova estética que resgata estruturas narrativas diferentes da clássica. As novas tecnologias permitem o avanço na linguagem, uma nova gramática. A questão da imagem abordada desde a pintura à foto, do cinema à televisão, do vídeo à informática que resulta no uso de novas tecnologias e ferramentas para a produção audiovisual afeta não só a linguagem cinematográfica, mas o espectador. O uso combinado de cinema, vídeo, foto vislumbra o surgimento de uma nova forma de formas de produção.

Meu trabalho é composto por um conjunto de pinturas, fotos, vídeos e outros objetos que discutem questões e visões da arte abaixo:
¨ Como resistir ao tempo? Tornar um momento durável ou fazê-lo existir por si?
¨ Como resistir à efemeridade?
¨ Como criar uma espessura temporal e não só espacial?
¨ Como associar o reflexo na intervenção de uma imagem na outra?
¨ Que soma é esta contaminação de imagem em outra?
¨ Uma pintura efêmera é uma imagem efêmera?
¨ Como armazenar inúmeras pinturas que surgem ao meu redor?
¨ Imagens efêmeras são criadas e destruídas, como resgatá-las?

As perguntas geralmente não têm respostas, já que respostas tendem a ser apenas opiniões que não fazem no percurso e trajetória do artista.