terça-feira, outubro 03, 2006
Espessura Temporal da Imagem: Tecnologias – Pinturas e Processos Digitais
À medida que a tecnologia progride e se dissemina, mudanças ocorrem no campo da arte. O progresso tecnológico faz emergir novos modelos de criação e de produção, refletindo a cultura e paradigmas de cada época. Por outro lado, também as criações artísticas, científicas e filosóficas fazem surgir novas possibilidades tecnológicas.
Portanto os atuais processos tecnológicos digitais de captação e de pós-produção de imagens nos impelem a avançar sobre a linguagem audiovisual com a intenção de estudar os novos parâmetros estéticos e pesquisar problemas relativos à virtualização do espaço, do tempo e do corpo.
Na produção audiovisual não é incomum unir elementos advindos dos diferentes segmentos, da ciência, da arte e da filosofia. No entanto, a intersecção entre eles permite o surgimento de novas possibilidades de atuação criativa e de atualização do trabalho artístico.
No campo das artes, trabalho essencialmente com a pintura, a fotografia e o vídeo. O foco da minha pesquisa é a imagem e suas implicações espaciais, temporais e corporais. Durante o processo de uma pintura, surgem diversas imagens que vão sobrepondo-se às anteriores, produzindo uma seqüência de apagamentos das quais resultam outras imagens. Ao observar o processo, questões relativas aos conceitos estabelecidos e cristalizados de espacialidade, temporalidade e materialidade se impõem:
¨ É possível resistir ao tempo, tornar um instante durável ou fazê-lo existir por si só?
¨ Como escapar à efemeridade das imagens?
¨ Como converter uma seqüência temporal de gestos, em imagens reversíveis do tempo sem que isso se torne um mero efeito tecnológico?
¨ Como criar uma espessura temporal a partir de movimentos, deslocamentos no espaço?
¨ Como criar uma nova dimensão temporal contando apenas com o encontro sensível entre qualidades intensivas mutáveis e um observador?
¨ Como resgatar o "tempo perdido" por meio de imagens, de sensações audiovisuais?
Fala-se aqui de um tempo proustiano. "Para sair das percepções vividas não basta evidentemente memória que convoque somente antigas percepções, nem uma memória involuntária, que acrescente a reminiscência, como fator conservante do presente. A memória intervém pouco na arte, mesmo e, sobretudo em Proust" - dizia o filósofo.
Concluindo, para o artista é premente tentar pensar, com os recursos e instrumentos propriamente artísticos, a situação contemporânea e o questionamento radical que ela comporta: a aceleração exponencial derivada da avalanche tecnológica acelerada e seu impacto sobre a "humanidade". Para tanto, a pesquisa privilegiará uma espécie de aguçamento da percepção do tempo, do espaço e da matéria.
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