sexta-feira, novembro 24, 2006

A Pausa de Alfredo Bosi


A Pausa

A pausa é responsável por marcar as células métricas e sintáticas, ordenando, desse modo o tempo da leitura. A pausa divide e, no dividir, equilibra. A pausa é dialética. Pode ser uma ponte para um sim, ou para um não, ou para um mas, ou para uma suspensão agônica de toda a operação comunicativa.

Na medida em que exerce uma função abertamente semântica, a pausa pertence antes à ordem da entoação e do andamento que à ordem, mais regular e cíclica, do metro.

A pausa que separa a frase que foi da frase que virá é um silêncio, cujo sentido vivo já pulsa na frase que foi. Vamos ler cada uma das nove pausas do poema “Maça” de Manuel Bandeira:

Por um lado te vejo como um seio murcho/
Pelo outro como um ventre de cujo umbigo pende ainda o cordão placentário/

És vermelha como o amor divino/

Dentro de ti em pequenas pevides/
Palpita a vida prodigiosa/
Infinitamente/

E quedas tão simples/
Ao lado de um talher/
Num quarto pobre de hotel//

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