sexta-feira, novembro 03, 2006

Poesia Dá-me tua Mão - Clarice Lispector




Dá-me a tua mão

Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta.

De como entrei naquilo que existe entre o

número um e o número dois,

de como via a linha de mistério e fogo,

e que é linha sub-reptícia.

Entre duas notas de música existe uma nota,

entre dois fatos existe um fato,

entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço,

existe um sentir que é entre o sentir-nos

interstícios da matéria primordial está a linha de mistério

e fogo que é a respiração do mundo,

e a respiração contínua do mundo

é aquilo que ouvimos

e chamamos de silêncio.

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